Essas vivências impulsionaram-me a buscar alternativas e questionar o saber estabelecido.
Ao longo do tempo, tive a oportunidade de conhecer pensadores inspiradores, como Ivan Ilich, Leboyer, Michel Odent e Robbie Davis-Floyd, dentre tantos outros, que provocaram uma verdadeira revolução em minha forma de pensar a medicina tradicional e, em particular, a Obstetrícia.
Desde o início da minha carreira na área da saúde, comprometi-me a pautar minha prática clínica nas melhores evidências científicas, sugerindo e buscando implementar essa abordagem há alguns anos, tanto no setor público quanto no privado. Minha experiência como médico obstetra e os nascimentos dos meus filhos proporcionaram uma visão mais crítica em relação ao modelo hegemônico de assistência ao parto e nascimento, evidenciando a impessoalidade e falta de humanização presentes em algumas situações.
Essa transformação levou-me a trilhar um novo caminho em busca de uma assistência mais respeitosa, empoderadora e centrada na mulher. Minha trajetória profissional foi marcada por desafios e frustrações, acertos e erros, mas também encontrei um novo propósito ao unir-me a outras pessoas que compartilhavam o desejo de construir um novo modelo de atenção ao parto e nascimento. Em particular, as que integraram e integram a ReHuNa – Rede Pela Humanização do Parto e Nascimento. Juntos, lutamos por uma abordagem mais humanizada, que considera não apenas o aspecto biomédico, mas também o cultural, espiritual e social desses eventos tão significativos na vida das mulheres e suas famílias.
Acredito firmemente que o parto e o nascimento transcendem a mera abordagem biomédica, sendo eventos culturais e sociais que merecem ser tratados com delicadeza, respeito e celebração. Nesse sentido, as mulheres devem ser, de fato, as protagonistas de suas jornadas, amparadas por uma equipe qualificada, sensível e respeitosa. Meu objetivo é contribuir para a construção de um novo paradigma de atendimento, onde as mulheres se sintam acolhidas, empoderadas, amparadas e celebradas em sua jornada para a maternidade.
Além disso, uma das maiores alegrias que a vida me proporcionou foi ter a oportunidade de compartilhar essas ideias e esse trabalho com meu filho, Pablo. Ele também escolheu seguir o caminho da saúde e, juntos, estamos unidos por uma visão comum de humanização e respeito no cuidado às mulheres durante o parto e nascimento.
O compromisso de uma vida dedicada à saúde e ao bem-estar das mulheres e suas famílias não se encerra com a aposentadoria.
Na verdade, é nesse momento que surge uma nova e valiosa forma de contribuir: compartilhar a vasta experiência e conhecimento adquirido – afinal, o primeiro bebê que recepcionei já completou 48 anos! É com imenso prazer que apresento o primeiro e-book de uma série voltada especialmente para aqueles que desejam engravidar, estão grávidos, amamentando ou atuam profissionalmente na área. Este e-book representa não apenas um compartilhamento de informações, mas também um convite para uma jornada de aprendizado e reflexão. E esse é apenas o começo.
Uma série de publicações está por vir, abordando tópicos essenciais como a ocitocina, essa substância tão emblemática em nossa área. Sinto-me honrado em ser parte dessa jornada e convido você a embarcar conosco nessa busca contínua por uma assistência ao parto e nascimento mais humana, empoderadora e celebratória.
É um privilégio poder dividir experiências, aprendizados e sonhos com ele e perceber que a próxima geração está comprometida em construir um mundo mais acolhedor e empático para as futuras mães e famílias. A cada dia ao lado de Pablo, fortalece-se minha convicção de que estamos no caminho certo e, juntos, continuaremos transformando para melhor a realidade do parto e nascimento.
Na hora mágica da fecundação, quando o óvulo encontra o espermatozoide, o futuro bebê recebe uma carga genética única, que irá determinar sua potencialidade. Essa combinação especial de genes é como uma receita personalizada que traz consigo os traços e características que cada pessoa carregará consigo ao longo da vida. É como se o universo depositasse em cada um de nós um conjunto de possibilidades, um mapa para explorar, descobrir e desenvolver nosso potencial humano. É fascinante pensar que, desde o início, trazemos conosco uma riqueza genética que nos diferencia e nos torna únicos. Cada um de nós tem um potencial único a ser descoberto e cultivado, e é essa jornada de autodescoberta e desenvolvimento que nos permite florescer e alcançar grandes conquistas.
A potencialidade humana é algo incrível e se refere à capacidade inata de cada indivíduo para se desenvolver, explorar talentos e habilidades, e alcançar seu pleno crescimento. Desde o momento em que uma nova vida começa, já existem características únicas que estão presentes em cada pessoa, moldadas por predisposições genéticas. Essas predisposições podem influenciar aspectos físicos, cognitivos, emocionais e sociais. No entanto, é importante ressaltar que a potencialidade não é algo estático e imutável, mas sim um processo dinâmico que requer estímulos e oportunidades adequadas para se manifestar plenamente.
Nesse contexto, a mulher que está trazendo uma nova vida ao mundo, a equipe de saúde que a assiste e a maternidade têm papéis fundamentais e compartilham a responsabilidade de cuidar desse potencial desde os estágios iniciais da vida. É essencial que esses atores estejam conscientes do impacto que podem ter no desenvolvimento humano e ajam de forma responsável para promover um ambiente propício para o crescimento saudável.
A epigenética é um campo da biologia que estuda os fatores que interagem com os genes e não são determinados pela hereditariedade. Esses fatores estão ligados ao meio ambiente e podem alterar a atividade do DNA sem modificar sua sequência. Essas alterações epigenéticas têm o potencial de influenciar o desenvolvimento, a saúde e o envelhecimento.
Estudos mostram que adversidades e estresse pré-natal podem ter efeitos duradouros no desenvolvimento e na saúde humana. As modificações epigenéticas, como a metilação do DNA, podem estar relacionadas a alterações nos sistemas fisiológicos e funcionais do cérebro, como cognição, função executiva e comportamento. Essas mudanças podem ser influenciadas pelo estresse relacionado à alimentação durante a gravidez e podem ser diferentes entre homens e mulheres.
A nutrição durante a gravidez e lactação também desempenha um papel importante nos efeitos epigenéticos. Evidências sugerem que a nutrição pode afetar o risco de desenvolver alergias alimentares em bebês por meio de mecanismos epigenéticos, incluindo a modulação da microbiota intestinal. A programação epigenética durante os primeiros meses de vida pode ter efeitos de curto e longo prazo na saúde, representando uma janela de oportunidade para intervenções visando à saúde a curto, médio e longo prazo.
Em resumo, a epigenética estuda as interações entre os fatores ambientais e os genes, mostrando que os organismos não são determinados apenas pela informação genética. As modificações epigenéticas podem ter implicações significativas no desenvolvimento, na saúde e nas doenças, destacando a importância de um ambiente saudável e nutrição adequada durante períodos críticos como a gravidez e os primeiros meses de vida.
Antes mesmo da concepção, a mulher possui uma grande responsabilidade : cuidar de sua própria saúde, tanto física quanto emocional. É um momento de amor-próprio, em que ela nutre seu corpo e mente, preparando-se para a bela jornada que está por vir.
Escolhas como uma dieta equilibrada, atividade física e evitar substâncias prejudiciais, como álcool, tabaco e drogas, demonstram todo o amor e compromisso com o futuro bebê. Buscar orientação médica e nutricional antes da gravidez é uma atitude sábia, garantindo que ela esteja em plenas condições de saúde para iniciar a maternidade. A epigenética, um campo fascinante da ciência, nos ensina que esses cuidados prévios à concepção têm o poder de influenciar a expressão dos genes e moldar a saúde e o bem-estar do bebê ainda não concebido.
Além dos aspectos genéticos, a saúde mitocondrial da mãe também desempenha um papel importante nesse processo. A mitocôndria é conhecida como a "usina de energia" de cada uma das células, fornecendo a energia necessária para o funcionamento adequado do organismo. Durante a concepção, a mitocôndria materna é transmitida para o bebê e desempenha um papel vital em seu desenvolvimento e futura saúde.
Certos fatores preconcepção podem ter um impacto significativo na função mitocondrial materna e, consequentemente, no bem-estar do bebê. Um exemplo notável é o tabagismo antes da concepção, que pode afetar a função mitocondrial e prejudicar a produção de energia celular. Isso pode resultar em complicações durante a gravidez, como restrição do crescimento fetal e parto prematuro.
Antes mesmo de considerar engravidar, é importante levar em conta certos fatores que podem afetar a saúde mitocondrial e o desenvolvimento fetal. Uma dieta inadequada, exposição a substâncias tóxicas e estresse crônico são exemplos de elementos que podem comprometer a saúde das mitocôndrias e ter efeitos adversos no bebê em formação. É fundamental evitar substâncias tóxicas, como álcool, tabaco e drogas ilícitas, pois elas podem causar danos irreversíveis e prejudicar o bem-estar do bebê.
Além disso, outros fatores preconcepção, como uma dieta inadequada, exposição a substâncias tóxicas e estresse crônico, também podem comprometer a saúde mitocondrial e ter efeitos adversos no desenvolvimento fetal. É crucial evitar substâncias tóxicas, como álcool, tabaco e drogas ilícitas, pois elas podem causar danos irreversíveis e prejudicar o bem-estar do bebê em formação.
Um exemplo prático, do nosso dia a dia é o uso de adoçantes artificiais. Os adoçantes artificiais podem causar sérios danos à saúde. Eles podem engordar, aumentar o risco de câncer, acelerar o envelhecimento e oferecer muitos outros riscos à saúde. Além disso, os adoçantes artificiais podem aumentar o apetite e ter uma má composição. O aspartame é alvo de contradições e apontado por alguns especialistas como substância cancerígena e danosa ao cérebro. Da mesma forma, a sucralose, além de agir como um antibiótico prejudicial à flora intestinal, tem sido associada a alterações no metabolismo da tireoide e a propriedades genotóxicas, que podem afetar o DNA, causando danos à mulher e ao futuro bebê.
Diante dessas informações, é fundamental estar ciente dos potenciais efeitos adversos dos adoçantes artificiais. No planejamento preconcepção, é aconselhável adotar uma abordagem cautelosa em relação a esses produtos, optando por alternativas mais naturais e saudáveis de adoçantes, como o uso moderado de açúcares naturais.
Da mesma forma, lidar com o estresse de maneira saudável é fundamental, pois o estresse crônico pode ter consequências negativas no desenvolvimento fetal. É importante aprender mais sobre esses fatores e descobrir como promover uma saúde materna ideal para o bem-estar do seu bebê.
Um exemplo de um problema que pode ser influenciado pela epigenética é a restrição de crescimento intrauterino (RCIU), em que o bebê não atinge o crescimento esperado durante a gravidez e nasce com baixo peso. Vários fatores, incluindo genéticos, placentários e maternos, podem contribuir para a RCIU. Estudos sugerem que a epigenética desempenha um papel fundamental nessa condição.
A exposição materna a fatores ambientais adversos antes e durante a gravidez pode afetar a programação epigenética do bebê, levando a modificações químicas no DNA e nas proteínas associadas. Isso resulta em alterações na expressão gênica, afetando o desenvolvimento do feto, especialmente a regulação de genes relacionados ao crescimento celular, metabolismo e desenvolvimento dos vasos sanguíneos da placenta.
Consequentemente, pode ocorrer um fornecimento inadequado de nutrientes e oxigênio para o bebê, resultando em retardo no crescimento e desenvolvimento anormal. É importante ressaltar que essas alterações epigenéticas têm implicações de longo prazo para a saúde do indivíduo. Crianças nascidas com RCIU têm maior probabilidade de desenvolver doenças crônicas na vida adulta, como doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e distúrbios metabólicos.
Compreender esses mecanismos epigenéticos nos permite identificar estratégias de prevenção e intervenção para melhorar os resultados de saúde dos bebês afetados pela RCIU. Ao adotar um estilo de vida saudável antes e durante a gravidez, é possível fornecer um ambiente propício para o desenvolvimento saudável do bebê.
Ao reconhecer a importância desses fatores e tomar medidas para promover um estilo de vida saudável, as mulheres podem desempenhar um papel ativo na manutenção do potencial de seu bebê desde os estágios iniciais da vida. Dessa forma, criarão as melhores condições para o desenvolvimento saudável e completo do bebê.
A decisão sobre a via de parto é um aspecto crucial no cuidado da mulher e do bebê, uma vez que pode ter impacto significativo no bem-estar de ambos. A via de parto pode variar entre o parto natural e a cesariana, cada um com suas próprias considerações e indicações médicas. É fundamental tomar essa decisão de forma consciente, levando em consideração o desejo da mulher, seu bem-estar, a saúde do bebê e as necessidades clínicas, sempre baseadas nas melhores evidências científicas disponíveis, especialmente quando a indicação da cesariana é por escolha materna.
Estudos têm investigado o impacto do tipo de parto na epigenética, sugerindo que pode haver associações entre a cesariana e alterações epigenéticas em recém-nascidos. A cesariana é um procedimento cirúrgico em que o bebê é retirado do útero por meio de uma incisão abdominal, diferentemente do parto vaginal.
O parto natural oferece inúmeras vantagens preciosas para o bebê. Durante esse processo, ocorre uma transfusão essencial de sangue da placenta para o bebê, fornecendo-lhe oxigênio e nutrientes vitais. Essa transfusão sanguínea é crucial, pois ajuda a preparar o bebê para a respiração independente e para o início de sua jornada de vida fora do útero. Além disso, durante o parto natural, o bebê é exposto a estímulos benéficos que ajudam a fortalecer seu sistema imunológico, como a microbiota vaginal da mãe. Esse contato inicial com as bactérias benéficas durante a passagem pela vagina desempenha um papel fundamental no desenvolvimento saudável do sistema imunológico do bebê. O parto natural além de empoderar a mulher, também favorece uma conexão imediata entre mãe e filho, promovendo o vínculo afetivo e emocional desde os primeiros momentos de vida. Essas vantagens do parto natural contribuem para um início harmonioso e saudável na vida do bebê, oferecendo-lhe uma base sólida para o crescimento, desenvolvimento e saúde ao longo do tempo.
A cesariana, embora necessária para garantir a segurança da mãe e do bebê, ocorre em um ambiente asséptico. No entanto, esse ambiente estéril pode privar o bebê do contato com as bactérias benéficas presentes na vagina. Essas bactérias, como já foi dito, desempenham um papel importante no desenvolvimento do sistema imunológico do bebê e na formação de uma microbiota saudável. Além disso, a cesariana também difere do parto vaginal em relação à transfusão de sangue e aos estímulos sensoriais que o bebê recebe. Essas diferenças podem afetar a composição da microbiota, a resposta imunológica inicial e até mesmo a transição para a respiração independente.
Estudos têm demonstrado que bebês nascidos por cesariana podem apresentar diferenças na metilação do DNA em comparação aos nascidos por parto vaginal. A metilação do DNA é uma modificação epigenética que regula a expressão gênica, e alterações nessa metilação pode afetar o desenvolvimento e a saúde do indivíduo.
É importante ressaltar, no entanto, que a cesariana em si não é necessariamente prejudicial e, em muitos casos, é uma intervenção médica necessária e que salva vidas. Além disso, os efeitos das alterações epigenéticas associadas à cesariana ainda estão sendo estudados, e sua relevância clínica precisa ser mais bem compreendida.
O puerpério é um período de adaptação e cuidado, no qual a mulher desempenha um papel fundamental na garantia das potencialidades do seu bebê. Durante essa fase, é importante que a mulher cuide de si mesma, tanto física quanto emocionalmente, para proporcionar um ambiente acolhedor e favorável ao desenvolvimento do seu filho. Isso envolve o autocuidado, como descanso adequado, alimentação saudável e a busca por uma rede de apoio, seja por meio de familiares, amigos ou profissionais de saúde.
A mulher desempenha um papel importante no estabelecimento de conexões afetivas e na oferta dos cuidados essenciais ao bebê, incluindo a amamentação, higiene adequada e estímulos adequados. Ao assumir essa responsabilidade, ela contribui para o desenvolvimento saudável do bebê, proporcionando segurança, amor e os estímulos necessários para que ele alcance seu pleno potencial.
Essa dedicação e cuidado no puerpério são essenciais para o futuro do bebê, estabelecendo bases sólidas para seu crescimento, aprendizado e bem-estar ao longo da vida.
O aleitamento materno desempenha um papel crucial no desenvolvimento biológico, psicológico e epigenético do bebê, sendo ampliado pela liberação de diversos hormônios maternos durante a amamentação. Um desses hormônios é a ocitocina, conhecida como o hormônio do amor. A ocitocina é liberada durante a amamentação, promovendo a contração das células mamárias, permitindo a saída do leite materno. Além disso, estimula sentimentos de apego e fortalece o vínculo emocional entre mãe e bebê.
Outro hormônio importante é a prolactina, responsável pela produção de leite. Ela é liberada durante a amamentação, estimulando as glândulas mamárias a produzir leite em quantidade adequada para suprir as necessidades nutricionais do bebê. Além disso, a prolactina desencadeia uma sensação de relaxamento e tranquilidade na mãe, contribuindo para uma experiência mais prazerosa e gratificante durante a amamentação.
Além da ocitocina e da prolactina, outros hormônios, como o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) e o hormônio liberador de corticotrofina (CRH), também podem ser liberados durante a amamentação. Esses hormônios desempenham um papel na regulação do estresse e do equilíbrio emocional da mãe, proporcionando uma sensação de bem-estar e relaxamento.
O leite materno contém uma variedade de hormônios que desempenham diferentes funções ao longo da amamentação. Além da prolactina e da ocitocina, o leite materno também contém hormônios tireoidianos, beta-endorfinas, relaxina, eritropoietina, cortisol e leptina, que contribuem para o desenvolvimento e bem-estar do bebê. O conteúdo hormonal no leite materno varia ao longo do tempo, adaptando-se às necessidades específicas do bebê em cada fase de crescimento e momento da vida.
Dessa forma, além dos benefícios nutricionais e emocionais, a amamentação também está associada à liberação de hormônios que promovem o vínculo afetivo entre mãe e bebê, induzem sentimentos de amor e apego, e contribuem para o bem-estar e o equilíbrio emocional da mãe. Esses hormônios desempenham um papel importante na criação de um ambiente propício para o crescimento, desenvolvimento e saúde global do bebê.
A responsabilidade do obstetra é de suma importância quando se trata de cuidar das gestantes e das futuras vidas que estão prestes a chegar ao mundo. Neste cenário repleto de ternura e emoção, a responsabilidade do obstetra é fundamental para garantir que cada bebê nasça com toda a sua potencialidade humana. Vamos explorar juntos como essa jornada mágica envolve bioética, medicina baseada em evidências e um cuidado amoroso, inspirado pelos ensinamentos de Leonardo Boff.
Imagine-se acompanhando uma gestante, cada momento carregado de expectativas e sonhos. O obstetra, guiado pela bioética, entra em cena com uma missão nobre: respeitar a dignidade e os direitos da mãe e do bebê, enquanto busca promover seu bem-estar. Esses princípios são como guias, que iluminam o caminho a seguir durante essa jornada.
Mas não paramos por aí! A medicina baseada em evidências surge como uma fonte de conhecimento atualizado e confiável. O obstetra mergulha nesse universo de descobertas científicas, combinando-as com sua experiência clínica e, igualmente importante, com os desejos, crenças e necessidades da mulher. Essa fusão de saberes permite oferecer à gestante e ao bebê os cuidados mais eficazes, embasados em informações científicas sólidas, garantindo que cada decisão seja tomada com segurança, sabedoria e em respeito à individualidade da mulher.
Nessa atmosfera encantadora, a responsabilidade do obstetra se transforma em uma missão apaixonante, onde a ciência se une ao coração. A cada sorriso, a cada lágrima de alegria, o obstetra testemunha a criação de um novo ser humano, dotado de infinitas possibilidades. E todo o esforço, dedicação e cuidado se tornam parte de uma história de amor que acompanhará essa família ao longo de suas vidas.
E então, entramos em um reino especial, onde o cuidado transborda ternura e compaixão. Inspirados pelos ensinamentos de Leonardo Boff, o obstetra entende que não se trata apenas de tratar aspectos médicos, mas de nutrir o amor e a conexão humana. Cada interação espera-se que seja impregnada de empatia, compreensão e respeito pelas crenças e desejos da família. O obstetra se torna um guardião do potencial humano do bebê, protegendo-o e proporcionando o ambiente ideal para que ele floresça e se desenvolva plenamente.
Portanto, embarque conosco nessa jornada fascinante, onde a potencialidade humana é abraçada desde o primeiro suspiro de vida. Descubra como a responsabilidade do obstetra, ancorada na bioética, na medicina baseada em evidências e no cuidado inspirado por Leonardo Boff, desempenha um papel essencial na criação de um futuro brilhante para cada pequeno tesouro que chega ao mundo.
Os preceitos da bioética são baseados em quatro princípios fundamentais: autonomia, beneficência, não maleficência e justiça
Autonomia significa respeitar a capacidade de decisão e autonomia do indivíduo. Beneficência envolve buscar o bem-estar e cuidar das pessoas. Não maleficência implica em não causar dano ou minimizar os riscos. Justiça se refere à igualdade e equidade no acesso aos cuidados de saúde. Esses princípios orientam a ética médica e as tomadas de decisão em saúde, garantindo o respeito à dignidade e aos direitos fundamentais de cada indivíduo.
Preparados para a continuação desta emocionante jornada? Agora, vamos aprofundar os conceitos da bioética e sua interação com o papel do obstetra na manutenção da potencialidade humana.
A bioética é um campo interdisciplinar que traz clareza e reflexão para as decisões envolvendo saúde, considerando valores e direitos fundamentais.
Imagine-se explorando os desafios éticos que permeiam a medicina e a biotecnologia, enquanto embarca em uma jornada de descoberta e reflexão que nos faz questionar o significado da vida, a importância da dignidade humana e o equilíbrio entre benefícios e responsabilidades.
A bioética nos convida a adentrar um mundo fascinante, onde a complexidade humana se encontra com a sabedoria e a ética, despertando nossa curiosidade e nossa responsabilidade em relação ao futuro da humanidade.
Como mencionado anteriormente, a bioética é como um farol, uma bússola que guia o obstetra em sua prática. Neste tópico, mergulharemos em uma exploração mais profunda desses princípios fundamentais. A beneficência, que abraça o cuidado compassivo e o bem-estar do bebê e da mulher, se entrelaça com a autonomia, reconhecendo a importância da gestante como uma parceira ativa em todas as decisões relacionadas à sua saúde e à do bebê.
No entanto, a autonomia da gestante também é valorizada e respeitada nesse processo decisório. O obstetra reconhece a importância de envolver a gestante como uma parceira ativa e informada na tomada de decisões relacionadas à sua saúde e à do bebê.
Imagine uma gestante que está considerando a opção de realizar uma cesariana eletiva, ou seja, uma cesariana sem indicação médica. Nesse caso, o obstetra busca aplicar os princípios da beneficência, que envolvem o cuidado compassivo e o bem-estar tanto da mãe quanto do bebê, juntamente com a não maleficência, que implica em evitar danos desnecessários e minimizar riscos.
Vejamos um exemplo prático de como a beneficência, a não maleficência e a autonomia se entrelaçam na prática obstétrica, com base na medicina baseada em evidências.
Nesse sentido, o obstetra oferece informações baseadas em evidências científicas, explicando os potenciais benefícios e riscos tanto da cesariana quanto do parto vaginal. Ele compartilha dados e estatísticas sobre impacto do parto e da cesariana sobre o futuro da saúde do bebê e da mulher, contribuindo para que a gestante compreenda plenamente as opções disponíveis.
Enquanto isso, o princípio da não maleficência ressalta o dever do obstetra de evitar danos e minimizar riscos, mantendo a segurança como uma prioridade constante.
O obstetra está atento às preferências e desejos da gestante, oferecendo suporte emocional e criando um ambiente seguro para que ela possa expressar suas preocupações e expectativas. O diálogo entre o obstetra e a gestante é essencial para que a decisão final seja tomada em conjunto, considerando os valores, crenças, desejos e circunstâncias específicas da gestante.
Dessa forma, a beneficência, a não maleficência e a autonomia se unem para promover uma assistência obstétrica baseada em evidências científicas, humanizada e centrada na mulher e no bebê. Essa abordagem busca garantir que as decisões sejam tomadas de forma informada, individualizada e respeitosa, resultando em uma experiência de gravidez e parto mais positiva e significativa para todos os envolvidos.
A justiça nos lembra que todas as gestantes merecem receber cuidados equitativos e de qualidade, independentemente de sua origem socioeconômica, cultural ou étnica, suas crenças e credos, sua espiritualidade e sua orientação sexual.
Imagine o poderoso papel do obstetra como um guardião da potencialidade humana. Sua visão transcende as aparências físicas, enxergando o brilho único que cada bebê carrega consigo. Seu papel é o de um defensor incansável, trabalhando em parceria com a mulher e a equipe de cuidados, para garantir que todos os aspectos do desenvolvimento do bebê sejam nutridos de maneira integral.
Essa abordagem humanizada e compassiva do obstetra reflete-se em cada interação. Ele estabelece vínculos de confiança com a gestante, oferece apoio emocional e cria um espaço seguro onde as preocupações e as expectativas sejam compartilhadas. Ele valoriza a individualidade de cada mulher e busca compreender suas necessidades e desejos, reconhecendo que cada história é única e merece ser honrada.
Essa visão holística e integrada se estende além do papel do obstetra, abrangendo uma equipe de cuidadores unidos pelo objetivo comum de promover a saúde e o bem-estar do bebê e da mãe. Essa colaboração interprofissional oferece um suporte abrangente, aproveitando a expertise de diferentes profissionais para proporcionar uma assistência completa e multifacetada, permitindo que cada bebê alcance seu pleno potencial humano.
Essa abordagem é um tributo à vida, ao amor e ao cuidado, onde cada nova vida é celebrada como uma promessa de esperança para o futuro.
A medicina baseada em evidências, como importante avanço na prática médica contemporânea, utiliza as melhores evidências científicas disponíveis para embasar as decisões clínicas, o diagnóstico e o tratamento. Essa abordagem busca fornecer informações confiáveis sobre a eficácia e segurança das intervenções médicas, reconhecendo, no entanto, que a certeza na ciência é provisória, sujeita a revisão e atualização à medida que novas evidências e descobertas surgem.
Essa abordagem tem como objetivo primordial melhorar a qualidade dos cuidados de saúde, garantindo que as práticas médicas sejam embasadas em dados objetivos e atualizados. Ao combinar os conhecimentos científicos com a experiência clínica do profissional, é possível oferecer cuidados mais eficazes e personalizados, levando em consideração as preferências e necessidades individuais da mulher.
Dessa forma, a medicina baseada em evidências se apresenta como uma poderosa ferramenta para promover a saúde e o bem-estar das mulheres, assegurando que as decisões médicas sejam tomadas com segurança, sabedoria e em consonância com as particularidades de cada uma. É um caminho que busca aliar a ciência ao cuidado individualizado, proporcionando uma abordagem integral e compassiva para a saúde feminina.
A Medicina Baseada em Evidências está intimamente relacionada com os princípios da bioética, que envolvem a preocupação com o bem-estar dos pacientes, o respeito à autonomia de cada indivíduo e a busca pela justiça na distribuição dos recursos de saúde. Ao adotar essa abordagem, o obstetra assume a responsabilidade de utilizar informações cientificamente comprovadas para proporcionar o melhor atendimento possível às gestantes e aos seus bebês.
Neste capítulo, vamos explorar essa fascinante interseção entre a bioética e a Medicina Baseada em Evidências. Vamos descobrir como essa abordagem ajuda os médicos a traduzir os princípios éticos em ações concretas no dia a dia da prática clínica. É uma jornada de conhecimento e reflexão, onde vamos desvendar os segredos por trás de uma medicina embasada em evidências sólidas, buscando sempre preservar a potencialidade humana de cada bebê que chega ao mundo.
Venha conosco nessa viagem de descobertas e compreenda como a Medicina Baseada em Evidências pode fazer a diferença na vida de gestantes e seus filhos. Vamos explorar juntos como a ética e a ciência se unem para proporcionar cuidados de qualidade, fundamentados em informações confiáveis.
Você verá como essa abordagem coloca em prática os valores que são tão importantes quando se trata da saúde e do bem-estar de cada ser humano.
Quando pensamos no momento do nascimento, muitas opções podem surgir, e uma delas é o parto vertical. Mas você sabe por que essa posição pode ser benéfica para você e seu bebê? Vamos explorar essa escolha, levando em consideração as evidências científicas e o princípio da beneficência, que busca o cuidado compassivo e o bem-estar de ambos.
A Medicina Baseada em Evidências tem nos mostrado que o parto vertical traz consigo uma série de vantagens. Ao adotar essa posição, você permite que a força da gravidade auxilie no processo de nascimento, facilitando a descida do bebê pelo canal de parto. Além disso, essa posição pode ajudar a diminuir a necessidade de intervenções médicas, como o uso de fórceps ou a realização de cesarianas.
Estudos científicos também indicam que o parto vertical pode reduzir o tempo de trabalho de parto e minimizar as chances de traumas perineais. Além disso, essa posição pode aumentar o conforto da mãe durante o processo e promover uma sensação de maior controle e empoderamento, dentre outras vantagens.
Ao escolher o parto vertical, você está seguindo uma abordagem baseada em evidências, que coloca em prática os conhecimentos científicos mais atualizados. Isso significa que você está tomando uma decisão informada, embasada em pesquisas confiáveis e com a intenção de proporcionar o melhor resultado para você e seu bebê.
É importante ressaltar que cada gestação e parto são únicos, e é fundamental contar com o suporte de uma equipe médica qualificada, que possa orientá-la de forma personalizada. Eles irão avaliar suas condições individuais e auxiliá-la na tomada de decisão, considerando sempre o bem-estar de ambos.
Lembre-se de que a escolha do parto vertical é uma opção que pode ser considerada, mas o mais importante é que você se sinta confortável e segura com o plano de parto que será estabelecido em conjunto com sua equipe de cuidadores.
Em suma, o parto vertical, respaldado pela Medicina Baseada em Evidências, oferece vantagens significativas para a mãe e o bebê. Ao adotar essa posição, você está promovendo um parto mais natural, respeitando o princípio da beneficência, que busca o bem-estar de ambos. Lembre-se de buscar informações confiáveis e contar com o suporte de profissionais capacitados, que irão auxiliá-la nessa jornada única e especial.
Agora, vamos abordar especificamente a episiotomia e explorar quais são as desvantagens desse procedimento, considerando a perspectiva da Medicina Baseada em Evidências e o princípio da não maleficência.
A episiotomia é uma incisão realizada na região entre a vagina e o ânus (períneo) para facilitar o parto. No entanto, pesquisas científicas têm demonstrado que a realização rotineira desse procedimento não traz benefícios claros e pode, na verdade, trazer mais danos do que vantagens.
Entre as desvantagens da episiotomia, podemos citar o aumento do risco de infecções, prolongamento da dor após o parto, dificuldades na cicatrização e maior desconforto durante a recuperação. Além disso, ela pode levar a complicações mais graves, como lacerações extensas e danos aos músculos do períneo.
É importante ressaltar que cada gestação e parto são únicos, e é essencial contar com o suporte de uma equipe especializada, capaz de avaliar suas circunstâncias individuais. A adoção de medidas preventivas, como fisioterapia pélvica, massagens perineais e técnicas de relaxamento durante o trabalho de parto, podem contribuir para a prevenção de lacerações graves e redução da necessidade de episiotomia.
Ao evitar a realização rotineira da episiotomia, o profissional está seguindo o princípio da não maleficência, que busca evitar danos desnecessários à saúde da mulher. A decisão de realizar ou não esse procedimento deve ser baseado em evidências científicas atualizadas, levando em consideração a necessidade real e as condições individuais da gestante.
Lembre-se da importância de manter uma comunicação aberta com sua equipe, pois eles são os melhores aliados para auxiliá-la a tomar decisões informadas. Eles fornecerão informações atualizadas e estarão disponíveis para ajudá-la, sempre priorizando o bem-estar tanto da mulher quanto do bebê.
Em resumo, a episiotomia apresenta desvantagens significativas e deve ser considerada de forma individualizada. Ao evitar sua realização rotineira, estamos contribuindo para o bem-estar da mãe e do bebê, em consonância com o princípio da não maleficência. Procure fontes confiáveis de informação e conte com o suporte de profissionais capacitados para acompanhar você nessa jornada única e especial.
A justiça na assistência ao parto e nascimento significa promover um ambiente que valorize a diversidade, combata as desigualdades e ofereça cuidados sensíveis às necessidades individuais. É garantir que todas as pessoas tenham a oportunidade de vivenciar um parto seguro, humanizado e respeitoso, independentemente de suas circunstâncias, assegurando a igualdade de acesso aos serviços de saúde.
Quando falamos sobre o nascimento, é essencial garantir uma assistência humanizada e embasada em informações confiáveis. A humanização do cuidado durante o parto é um princípio fundamental, que busca tratar todas as gestantes com respeito e dignidade.
Ao correlacionar o princípio de justiça com a medicina baseada em evidências, buscamos garantir a igualdade de acesso aos melhores cuidados de saúde possíveis. Isso significa que todas as gestantes têm direito a informações precisas, participação nas decisões sobre o parto e respeito às suas preferências.
A humanização da assistência ao nascimento, aliada à medicina baseada em evidências, busca uma abordagem inclusiva e equitativa. Independentemente da situação social ou econômica, da cor de sua pele ou de sua opção sexual, todas as pessoas merecem ser tratadas com dignidade durante o parto. O cuidado deve ser embasado em informações confiáveis, proporcionando uma experiência segura e positiva.
Para garantir essa abordagem, é fundamental buscar profissionais de saúde comprometidos com a humanização da assistência ao parto e nascimento e que utilizem a medicina baseada em evidências como base para sua prática. Assim, as mulheres terão acesso a um cuidado justo e embasado em informações científicas confiáveis, resultando em uma experiência de parto mais segura e positiva.
Lembre-se de que você tem o direito de participar ativamente das decisões relacionadas ao seu parto, ser tratada com respeito e ter suas preferências levadas em consideração. Busque informações confiáveis, faça perguntas e compartilhe suas preferências com sua equipe de saúde.
A maternidade desempenha um papel essencial no fornecimento de uma ambiência adequada para a preservação das potencialidades genéticas do bebê. Como local de assistência ao parto e cuidados pós-natais, é responsabilidade da equipe da maternidade criar um ambiente acolhedor e propício ao desenvolvimento saudável do recém-nascido.
Um conceito importante trazido por Michel Odent é que o melhor lugar para parir é onde o bebê foi concebido, pois existe uma profunda semelhança fisiológica entre a relação sexual e o parto. Durante esses momentos especiais, áreas cerebrais semelhantes são ativadas e outras inibidas, além da liberação da mesma cascata de hormônios. Portanto, fatores que prejudiquem a relação sexual também podem afetar negativamente o processo do parto. É crucial entender e respeitar essa ligação íntima entre sexualidade e nascimento, proporcionando um ambiente acolhedor, seguro e íntimo para a mulher dar à luz. Ao promover uma experiência humanizada, onde o amor, o respeito e a intimidade são valorizados, estamos criando as condições ideais para favorecer que o bebê se desenvolva plenamente e nasça de forma saudável e harmoniosa.
Reconhecendo a profunda conexão entre a relação sexual e o parto, compreendemos que cada mulher é única e tem suas próprias preferências e desejos. Nesse contexto, a opção de realizar o parto em casa surge como uma possibilidade muito interessante, permitindo que a mulher esteja em um ambiente familiar e confortável, cercada por pessoas de sua confiança. Essa escolha respeita a autonomia da gestante, promove a intimidade e a sensação de controle durante o processo do parto, proporcionando uma experiência mais íntegra e conectada com suas necessidades individuais. No entanto, é fundamental ressaltar que a decisão de onde parir deve ser tomada em conjunto com profissionais qualificados, levando em consideração a saúde da mãe e do bebê, bem como os recursos disponíveis para garantir um parto seguro e assistido por equipe capacitada.
Infelizmente, é importante destacar que a visão tecnocrática da assistência ao parto e nascimento, que prevalece em nossa sociedade, tem influenciado nas decisões regulatórias. Um exemplo disso é a proibição da assistência domiciliar por obstetras em Santa Catarina, imposta pelo Conselho Regional de Medicina de SC - CREMESC. Essa abordagem hegemônica, centrada na medicalização e na padronização dos procedimentos, muitas vezes negligencia a importância da individualidade da gestante e a sua capacidade de tomar decisões informadas sobre o local do parto. A proibição da assistência domiciliar priva as mulheres da possibilidade de vivenciar um parto respeitoso, personalizado e em um ambiente familiar e acolhedor.
É fundamental repensar essas restrições e promover um diálogo que valorize a autonomia da mulher e o respeito às suas escolhas, garantindo o acesso a opções seguras e respaldadas por profissionais capacitados.
Levando em conta a reflexão anterior, é importante reconhecer que essa mesma visão tecnocrática da medicina também orienta a construção e o gerenciamento de nossas maternidades. Essas instituições muitas vezes adotam uma abordagem padronizada, voltada para a eficiência e os procedimentos médicos, em detrimento da individualidade e das necessidades emocionais das gestantes.
A rigidez dos protocolos e rotinas pode comprometer a humanização da assistência ao parto, limitando as opções das mulheres e reduzindo a possibilidade de uma experiência mais acolhedora e respeitosa. É essencial repensar esses modelos de maternidade, promovendo uma abordagem mais centrada na mulher, que valorize sua autonomia e suas escolhas, proporcionando um ambiente seguro e acolhedor para a preservação das potencialidades do bebê.
Tendo em vista a proibição do parto domiciliar, a premissa mais importante para repensarmos nossas maternidades é considerar como cada variável do meio-ambiente afeta certo processo cerebral, que por sua vez, pode alterar a medida de um resultado específico. Isso implica em reconhecer a relação entre a arquitetura do hospital, os resultados maternos e a performance dos profissionais. A forma como a estrutura física do ambiente hospitalar é projetada, juntamente com as práticas e abordagens adotadas pela equipe de saúde, pode ter um impacto significativo na experiência e nos resultados do parto.
Portanto, é essencial repensar a concepção das maternidades, de modo a criar um ambiente que proporcione maior conforto, segurança e apoio emocional para as gestantes, além de favorecer uma atuação eficiente e humanizada por parte dos profissionais de saúde.
Aí entra o conceito de ambiência.
A ambiência, de acordo com a Academy of Neuroscience for Architecture dos EUA, é o conceito que busca criar espaços que promovam o bem-estar físico, emocional e social das pessoas. É sobre reconhecer a influência do ambiente físico no nosso estado mental e emocional, e como isso pode afetar nossa qualidade de vida. Neste caso, a ambiência busca trazer humanização para o contexto do nascimento, reconhecendo as necessidades individuais das mulheres e promovendo uma experiência de parto positiva e saudável.
É importante destacar que a ambiência desempenha um papel crucial na preservação das potencialidades genéticas do bebê na maternidade. Uma ambiência adequada durante o parto e nascimento é essencial para preservar as potencialidades do bebê.
Um ambiente tranquilo, acolhedor e respeitoso desempenha um papel crucial no bem-estar do recém-nascido, permitindo que ele seja recebido em um espaço que estimule sua saúde e desenvolvimento. A iluminação suave, os sons tranquilos e a presença de pessoas que oferecem apoio e segurança são elementos que contribuem para que o bebê seja recebido com afeto e respeito, favorecendo sua adaptação ao novo mundo.
O impacto das características arquitetônicas no bem-estar de populações especiais, como mulheres em trabalho de parto e recém-nascidos, é de extrema importância. O ambiente em que essas pessoas se encontram pode ter um efeito significativo em seu conforto físico e emocional.
Durante o trabalho de parto, é essencial que as mulheres tenham um espaço acolhedor, tranquilo e privativo, que as faça sentir-se seguras e permita que elas se conectem com suas necessidades e intuições. Da mesma forma, os recém-nascidos se beneficiam de um ambiente calmo, com iluminação adequada e estímulos sensoriais controlados, que promovam seu bem-estar e adaptação à nova realidade fora do útero. Portanto, ao considerar a influência da arquitetura, é fundamental priorizar espaços que ofereçam cuidado humanizado, garantindo o conforto e a preservação das potencialidades dessas populações especiais.
O design interior de uma maternidade pode desempenhar um papel crucial na performance dos profissionais de saúde e nos resultados maternos.
Quando se trabalha com prazer, os resultados na assistência obstétrica tendem a ser ainda mais positivos. A ambiência desempenha um papel crucial nesse contexto, pois um ambiente adequado pode fortalecer o relacionamento entre o obstetra, a gestante e acompanhantes de sua escolha. Estudos destacam que a adequação da ambiência contribui significativamente para um modelo de assistência humanizada, o que pode melhorar consideravelmente a assistência ao parto.
De fato, o conforto proporcionado pelo ambiente, incluindo a iluminação e temperatura adequadas, a música ambiente, influenciam diretamente na qualidade da assistência prestada, impactando positivamente no processo de trabalho do profissional que está atuando na assistência.
É importante reconhecer a estreita relação entre sexualidade e parto, compreendendo como o ambiente físico pode afetar a experiência da mulher durante esse momento tão especial. Um exemplo disso é imaginar a dificuldade de atingir um orgasmo em uma mesa de centro cirúrgico, o que evidencia como um ambiente inadequado pode interferir no desenrolar do trabalho de parto e na vivência da mulher. Portanto, ao projetar e organizar os espaços das maternidades, é essencial criar ambientes que promovam intimidade, privacidade e segurança, permitindo que a fisiologia natural do parto e a conexão emocional entre mãe, bebê e equipe de saúde sejam preservadas.
A habilidade do profissional em fornecer um cuidado adequado é aprimorada em um ambiente que leva em consideração a privacidade da mulher de acordo com suas necessidades, desejos, preferências e cultura. É essencial que a ambiência seja sensível às demandas e particularidades de cada gestante, reconhecendo que o limite da necessidade de privacidade pode variar entre indivíduos e culturas.
Ao criar um ambiente que respeita a privacidade, a gestante se sente mais confortável, segura e capaz de estabelecer uma comunicação aberta com o obstetra e a equipe de saúde, facilitando o compartilhamento de informações, dúvidas e preocupações. Além disso, um ambiente que respeita a privacidade contribui para reduzir o estresse e a ansiedade da gestante, proporcionando um espaço tranquilo e acolhedor. Essa relação de confiança mútua promove uma assistência obstétrica mais humanizada, na qual a gestante é vista como uma parceira ativa em seu próprio cuidado.
Dessa forma, ao considerar as necessidades de privacidade e respeitar as preferências e cultura da gestante, a ambiência adequada na assistência obstétrica cria as condições ideais para o desenvolvimento de um cuidado individualizado, empático e de qualidade, que prioriza a autonomia da mulher e promove seu bem-estar durante todo o processo gestacional e no momento do parto.
A privacidade e o controle têm um impacto significativo nas respostas emocionais das mulheres durante o parto e nos resultados maternos e perinatais. Quando as mulheres se sentem seguras, respeitadas e no controle do processo de nascimento, é mais provável que experimentem emoções positivas e uma maior sensação de empoderamento, resultando em uma maior satisfação com a experiência de parto, recuperação pós-parto mais rápida e melhor interação mãe-bebê, o que consequentemente contribui para a saúde do bebê.
Por outro lado, a falta de privacidade e controle pode gerar ansiedade, medo e estresse, o que afeta negativamente a progressão do trabalho de parto e a saúde da mulher, impactando também a saúde do bebê. Portanto, é fundamental garantir que as mulheres tenham um ambiente íntimo, acolhedor e respeitoso durante o trabalho de parto, permitindo que elas exerçam controle sobre suas escolhas e decisões. Essa abordagem coloca a mulher física e emocionalmente no controle de seu próprio processo de parto, reconhecendo-a como protagonista de sua experiência, e os profissionais de saúde assumem o papel de apoio, promovendo resultados melhores para todos.
A iluminação desempenha um papel crucial durante o parto e nascimento, afetando tanto a experiência das mulheres quanto os resultados perinatais. Estudos mostram que uma iluminação adequada, preferencialmente na penumbra, pode ter efeitos positivos no bem-estar emocional das parturientes, promovendo um ambiente acolhedor e tranquilo. Por outro lado, a exposição a uma iluminação artificial e intensa, como luzes fluorescentes brilhantes, pode causar desconforto, interferir no processo hormonal e afetar negativamente a experiência do nascimento. Portanto, é fundamental considerar cuidadosamente a iluminação e criar uma ambiência adequada nas maternidades, buscando proporcionar um ambiente acolhedor, com luz suave e natural, para promover o bem-estar das parturientes e a preservação da potencialidade dos bebês.
Durante o trabalho de parto, fatores como a presença de luz forte, falta de privacidade, solidão e medo podem estimular o neocórtex, a parte do cérebro responsável pelo pensamento racional e controle consciente. Essa estimulação excessiva pode criar uma espécie de bloqueio, dificultando o progresso natural do trabalho de parto e do próprio parto. Por isso, é fundamental proporcionar um ambiente acolhedor e respeitoso, onde a luz seja suave, a privacidade seja preservada e o apoio emocional seja oferecido. Ao cuidar desses aspectos, podemos ajudar as mulheres a se conectarem com seus instintos, permitindo que o trabalho de parto flua de forma mais tranquila e harmoniosa. É importante lembrar que cada parto é único e especial, e criar um ambiente que respeite a fisiologia e a unicidade desse momento é essencial para promover uma experiência positiva e saudável para todas as mulheres.
Em conclusão, pode-se afirmar que as maternidades desempenham um papel fundamental na preservação da potencialidade humana dos bebês. Com base nos ensinamentos da Academia de Neurociência para Arquitetura (EUA), entendemos que ao criar uma ambiência adequada, respeitosa e voltada às necessidades das mulheres e seus bebês durante o trabalho de parto, parto e nascimento, elas proporcionam condições ideais para que a fisiologia e a conexão mãe-bebê se desenvolvam de forma plena. Ao considerar essas necessidades, as maternidades podem ser espaços que promovam a potencialidade humana dos bebês, permitindo que eles sejam recebidos em um ambiente seguro e amoroso, propício para o início de suas jornadas de vida.
Leonardo Boff, teólogo, filósofo e escritor brasileiro, é um dos principais expoentes da chamada Teologia da Libertação, e ao longo de sua extensa carreira, tem se dedicado a refletir sobre diversos temas, incluindo o significado do cuidado. Para Boff, o cuidado é uma dimensão fundamental da existência humana, que permeia todas as esferas da vida, desde as relações interpessoais até a relação com a natureza e o planeta como um todo.
Suas obras provocativas e críticas muitas vezes o levaram a conflitos com autoridades eclesiásticas, resultando em sua suspensão temporária das atividades religiosas. Ao longo de sua carreira, Boff escreveu numerosos livros abordando temas como espiritualidade, ecologia, política e justiça, tornando-se uma figura influente tanto na esfera religiosa quanto na discussão pública.
Um dos temas centrais na obra de Leonardo Boff é o cuidado. Este renomado teólogo, filósofo e escritor brasileiro dedica grande parte de seus escritos e reflexões à importância do cuidado nas diversas esferas da vida humana e do planeta. Para Boff, o cuidado não é apenas um conceito, mas uma atitude fundamental que permeia as relações entre os seres humanos, a sociedade e a natureza.
Boff explora o cuidado como um princípio ético e espiritual que nos chama a preservar e nutrir tanto as relações interpessoais quanto o meio ambiente. Ele argumenta que o cuidado é essencial para a construção de uma sociedade mais justa, equitativa e sustentável. Isso implica em considerar as necessidades e dignidade de todos, especialmente dos mais vulneráveis, e em agir de maneira responsável em relação aos recursos naturais e ecossistemas.
Em sua perspectiva, o cuidado transcende fronteiras religiosas e culturais, sendo um chamado universal à compaixão, empatia e responsabilidade. Boff também destaca a interconexão entre o cuidado com o ser humano e o cuidado com o planeta, ressaltando que a saúde e o equilíbrio de ambos estão intrinsecamente ligados. Assim, ao longo de suas obras e discursos, Leonardo Boff nos convida a refletir sobre a importância de adotar uma postura de cuidado em todas as nossas ações e decisões, visando promover a harmonia entre as pessoas e a natureza, e construir um futuro mais promissor para as gerações presentes e futuras.
Site: https://leonardoboff.org/
Livros de Leonardo Boff:
• Igreja: Carisma e Poder (1981)
• Eclesiogênese: A Igreja que Nasce do Povo (1986)
• Ecologia: Grito da Terra, Grito dos Pobres (1995)
• A Águia e a Galinha: Uma Metáfora da Condição Humana (1999)
• Saber Cuidar: Ética do Humano - Compaixão pela Terra (1999)
• A Agonia do Cristianismo (2000)
• A Águia e a Galinha - Uma Metáfora da Condição Humana (2000) - Edição Ampliada
O trabalho de Ivan Illich sobre medicina representa uma crítica profunda ao sistema médico moderno e à crescente medicalização da vida. Em sua obra "A Expropriação da Saúde: Nêmesis da Medicina", Illich argumenta que a medicina, ao invés de verdadeiramente promover a saúde, frequentemente cria uma dependência doentia nas pessoas, tornando-as reféns de procedimentos médicos e tecnologias.
O autor também questiona o sistema médico moderno por sua ênfase excessiva nas soluções tecnológicas para todos os problemas de saúde. Ele aponta que, em busca da chamada "cura" para todas as doenças, a medicina muitas vezes negligencia os fatores sociais, ambientais e comportamentais que influenciam a saúde. Ignorar esses determinantes da saúde pode levar a um tratamento superficial dos problemas, sem abordar as causas subjacentes das doenças.
Nesse contexto, Illich denuncia a medicalização da sociedade, onde a busca por uma suposta "saúde perfeita" leva a uma cultura de medicalização excessiva, transformando questões comuns da vida em problemas médicos. Esse fenômeno resulta em um aumento exagerado do consumo de serviços médicos, como consultas, exames e medicamentos, muitas vezes desnecessários ou até prejudiciais.
Outro ponto importante abordado por Illich é a "iatrogenia", ou seja, os danos causados pelos próprios tratamentos médicos. A busca incessante por curas e intervenções pode resultar em efeitos colaterais indesejados, bem como em procedimentos desnecessários que prejudicam a qualidade de vida dos pacientes.
Em essência, o trabalho de Ivan Illich é uma chamada à reflexão sobre o sistema médico industrializado e sua abordagem predominante, que muitas vezes prioriza a cura rápida e a tecnologia em detrimento da promoção da saúde real. Ele defende uma abordagem mais holística e contextualizada em relação à saúde, enfatizando a importância de considerar os aspectos sociais, ambientais e comportamentais, e promovendo a responsabilidade individual e coletiva pela saúde.
Illich nos convida a repensar a maneira como encaramos a medicina e a saúde, buscando evitar a medicalização excessiva e promovendo a autonomia das pessoas em cuidar de si mesmas. Ao fazer isso, poderíamos construir um sistema de saúde mais consciente e sustentável, focado em uma visão integral do ser humano e em proporcionar uma vida mais saudável e significativa.
Livros de Ivan Illich:
• "Limits to Medicine: Medical Nemesis, the Expropriation of Health" (1976)
• "Os Limites da Medicina: A Nêmesis Médica, a Expropriação da Saúde"
• "Less medicine, more health: a memoir of Ivan Illich" (2009)
• "Menos Medicina, Mais Saúde: Uma Memória de Ivan Illich"
Nos recantos da história da medicina e da maternidade, uma figura se destaca como um ícone de mudança e humanidade. Frédérick Leboyer, além de um obstetra visionário, personifica um defensor incansável da arte de trazer vidas ao mundo com dignidade e amor. Sua jornada começou em 1º de novembro de 1918, quando pela primeira vez ele respirou o ar deste mundo, e se encerrou em 25 de maio de 2017, quando partiu, deixando para trás um legado que continua a brilhar como uma estrela guia.
Nas vastas pradarias da obstetrícia, onde os ventos uivam verdades estabelecidas e a rigidez de protocolos médicos é a norma, surgiu uma voz singular, um sussurro de humanidade e conexão ancestral. Esse sussurro ecoou através das páginas de um livro que se tornou mais do que uma obra, uma ode à sacralidade do nascimento, uma reverência à dança cósmica entre mãe e filho. Frédérick Leboyer, o visionário, o inovador, o humanista nas salas de parto, nos convidou a uma jornada íntima através de "Nascer Sorrindo". Como um alquimista literário, ele destilou anos de sabedoria, experiência e reflexão em uma narrativa que transcende a ciência para tocar o âmago do nosso ser.
Uma lista dos livros de Leboyer:
• "Birth Without Violence" (1974)
• "Nascer Sorrindo" (1975)
• "Loving Hands: The Traditional Art of Baby Massage" (1976)
• "Mãos de Amor: A Arte Tradicional da Massagem Infantil" (1992)
• "Inner Beauty, Inner Light" (1980)
• "Beleza Interior, Luz Interior" (2005)
"Experiências têm claramente demonstrado que uma abordagem que 'desmedicaliza' o nascimento, restaura a dignidade e a humanidade ao processo de parto e devolve o controle à mãe também é a abordagem mais segura."
Michel Odent
No cerne de sua filosofia, reside o conceito central da influência do ambiente no qual o parto ocorre. Odent advoga pelo desenvolvimento de locais serenos, privados e envolventes, com o intuito de instilar um sentimento de tranquilidade e conforto na parturiente durante o processo de dar à luz. Adicionalmente, ele exalta a relevância da redução de intervenções médicas desnecessárias durante o parto, a menos que haja uma justificação clínica irrefutável.
Entretanto, um dos marcos mais distintivos das contribuições de Odent é sua ênfase nos hormônios do parto, notadamente a ocitocina e a endorfina. Essas substâncias desempenham papéis vitais na orquestração do processo de nascimento e na promoção do elo entre mãe e filho. Odent ressalta veementemente que a interferência nos processos hormonais inatos pode acarretar impactos adversos na experiência do parto e nos destinos futuros do recém-nascido.
As ideias progressistas de Odent têm sido objeto de debates e discussões acaloradas dentro da comunidade médica, enfermagem e entre parteiras, estimulando uma análise profunda das práticas obstétricas e dos modelos de cuidados à saúde materna. O trabalho de Michel Odent, com sua visão vanguardista, tem contribuído de maneira significativa para impulsionar o movimento de humanização da assistência ao parto e nascimento, enfatizando a primordialidade de honrar o poder inerente do corpo feminino em meio a esse momento extraordinário da existência.
"Para mudar o mundo, primeiro precisamos mudar a forma como nascemos."
Michel Odent
https://www.institutomichelodent.com.br/
• Água e Sexualidade
• Gênese do Homem Ecológico
• A Cientificação do Amor
• O Camponêss e a Parteira
• O Renascimento do Parto
• A Cesariana
A trajetória de Robbie Davis-Floyd é uma jornada repleta de descobertas e questionamentos no campo da assistência ao parto e nascimento. Desde o momento em que escolheu o tópico de sua dissertação, ela já vislumbrava explorar o xamanismo, mas a vida a conduziu a um caminho distinto e fascinante. Casada com o arquiteto Robert Floyd, Robbie esperava por um parto natural, mas o que se seguiu foi uma cesariana traumática, levantando questionamentos sobre a natureza tecnológica e intervencionista dos partos hospitalares.
Intrigada, Robbie mergulhou no universo das experiências de parto de outras mulheres. Ela realizou entrevistas com 100 mulheres sobre suas vivências de gravidez e parto, transformando esse empreendimento em sua dissertação e, posteriormente, em seu primeiro livro, "Birth as an American Rite of Passage" (1992). Este livro se destacou não somente pelo seu conteúdo perspicaz, mas também pela forma como foi recebido. Uma resenha elogiosa de Sarah Ruddick no Sunday New York Times Book Review catapultou a obra para reconhecimento e uso em diversas disciplinas acadêmicas, da antropologia aos estudos de gênero, passando pela sociologia e educação em obstetrícia.
O sucesso de "Birth as an American Rite of Passage" foi influenciado pelo encontro com Brigitte Jordan, uma renomada antropóloga e autora de "Birth in Four Cultures" (1978). Jordan reconheceu o potencial da dissertação de Robbie como um livro e sugeriu sua publicação pela University of California Press. Esse marco não apenas solidificou a reputação de Robbie como uma voz influente na área, mas também a levou a explorar outros âmbitos. Ela direcionou sua atenção às parteiras, estudando suas práticas e identidades em um mundo em constante transformação. O livro resultante, "Mainstreaming Midwives: The Politics of Change" (2006), se tornou uma contribuição notável para o campo.
A busca contínua de Robbie por compreender abordagens alternativas à saúde a levou a explorar médicos holísticos. Intrigada pelo desejo desses profissionais de "mudar paradigmas" após anos de treinamento médico convencional, ela conduziu entrevistas reveladoras e coescreveu "From Doctor to Healer: The Transformative Journey". Este livro revela os paradigmas de saúde pelos quais os médicos transitam, desde modelos tecnocráticos até humanísticos e holísticos.
A jornada de Robbie Davis-Floyd é uma narrativa de paixão pela descoberta, questionamento incansável e dedicação à busca de perspectivas alternativas, abrangendo desde os mistérios do nascimento até as estrelas no espaço. Sua influência reverbera em disciplinas que vão desde a medicina até a antropologia, enriquecendo nosso entendimento da complexidade humana e do mundo ao nosso redor.
O modelo tecnocrático, como mencionado anteriormente, enfatiza a intervenção médica e o uso extensivo de tecnologias durante o parto, frequentemente adotando uma abordagem padronizada, com pouca consideração às necessidades emocionais e culturais da gestante. Modelo hegemônico em nosso país.
O modelo humanizado, por outro lado, coloca a mulher no centro do processo de parto, valorizando suas escolhas e respeitando sua autonomia. Nesse modelo, a assistência ao parto é caracterizada por um ambiente acolhedor e apoio emocional, evitando intervenções desnecessárias e privilegiando a fisiologia natural do nascimento.
Já o modelo holístico de assistência ao parto é uma abordagem mais abrangente, que combina elementos do modelo humanizado com uma perspectiva integrativa de cuidado. Nesse modelo, a assistência ao parto é vista como um evento complexo e multifacetado, no qual aspectos físicos, espirituais, emocionais, sociais e culturais interagem entre si. A atenção é voltada para a totalidade da experiência da mulher, buscando equilibrar sua saúde física e emocional.
A obra de Robbie Davis-Floyd sobre modelos de assistência ao parto e nascimento é conhecida por seu enfoque antropológico abrangente, que explora as práticas de diferentes culturas e sistemas de saúde ao redor do mundo. Sua pesquisa revela a existência de três modelos principais de assistência ao parto: o tecnocrático, o humanizado e o holístico.
No modelo holístico, a gestante é considerada uma pessoa completa, e sua história de vida, cultura, crenças e valores são levados em conta durante todo o processo de cuidado. Esse modelo reconhece que o parto é um evento que transcende o aspecto físico, envolvendo dimensões psicológicas e espirituais da gestante. Ao longo de suas visitas ao Brasil, incluindo Florianópolis, Davis-Floyd elogiou a Maternidade do Hospital Universitário da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) por adotar uma abordagem que combina elementos do modelo humanizado com uma perspectiva holística de cuidado. Nesse elogio, ela ressaltou o valor de considerar a totalidade da experiência da mulher durante o parto, levando em conta seus aspectos físicos, emocionais, sociais e culturais.
A obra de Robbie Davis-Floyd teve um impacto profundo na minha vida profissional. Suas análises minuciosas e suas reflexões sobre os diferentes modelos de assistência ao parto abriram os horizontes da minha compreensão sobre a Obstetrícia. Em especial, suas observações sobre a abordagem tecnocrática e a humanização do parto lançaram luz sobre as razões que muitos obstetras brasileiros agem da forma como agem. Ao compreender a influência desses modelos na prática obstétrica, pude desenvolver uma visão mais crítica e contextualizada sobre os desafios enfrentados na área. Suas ideias continuam a me inspirar a buscar um cuidado mais humano, respeitoso e integral para as gestantes e suas famílias.
Livros de Robbie Davis-Floyd:
• "Birth as an American Rite of Passage" (1992)
• "Mainstreaming Midwives: The Politics of Change" (2006)
• "Birth Models That Work" (2009)
• "Birth Models That Work - Midwifery Today" (2010)
• "Birth and the Big Bad Wolf: The Power of Rituals and the Limits of Biology" (2011)
• "Birth Models That Work - Second Edition" (2016)
• "Intuition: The Inside Story" (2011.)
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A ReHuNa é uma organização da sociedade civil que vem atuando desde 1993 em forma de rede de associadas(os) em todo o Brasil. Nosso objetivo principal é a divulgação de assistência e cuidados perinatais com base em evidências científicas. Essa rede tem um papel fundamental na estruturação de um movimento que hoje é denominado “humanização do parto/nascimento”. Esse movimento pretende diminuir as intervenções desnecessárias e promover um cuidado ao processo de gravidez/parto/nascimento/amamentação baseado na compreensão do processo natural e fisiológico. A ReHuNa apóia, promove e reivindica a prática do atendimento humanizado ao parto/ nascimento em todas as suas etapas, a partir do protagonismo da mulher, da unidade MãeBebê e da medicina baseada em evidências científicas. Essa missão vem sendo buscada na prática diária de pessoas, profissionais, grupos e entidades filiados à rede e preocupadas(os) com a melhoria da qualidade de vida, o bem estar e bem nascer.
A ReHuNa foi pioneira na produção e difusão das Recomendações da Organização Mundial de Saúde para a Atenção a Partos e Nascimentos, assim como informações sobre práticas de assistência baseada em evidências científicas, inicialmente produzindo o boletim Notas sobre Nascimento e Parto (Grupo de Estudos sobre Nascimento e Parto/ Instituto de Saúde/ Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo); intermediou a tradução do Guia para atenção efetiva na gestação e no parto (ENKIN et al., 2005) e de vários vídeos (Parir e Nascer, Liberdade para Nascer, Microbirth).
Também realizou eventos científicos: I Seminário sobre Nascimento e Parto do Estado de São Paulo, em 1996 e o II em 1999; os Congressos Internacionais Ecologia do Parto e Nascimento (2002 e 2004: Rio de Janeiro e Florianópolis); Conferências Internacionais sobre Humanização do Parto e Nascimento (2000: Fortaleza; 2005: Rio de Janeiro; 2010 e 2016: Brasília), além de outros encontros, seminários, oficinas, em parceria com Agência de Cooperação Internacional do Japão e Ministério da Saúdes, além de outros organismos nacionais e internacionais. Foi na I Conferência Internacional sobre Humanização do Parto e Nascimento que foi fundada a Rede Latino-Americana e do Caribe pela Humanização do Parto e Nascimento (Relacahupan). Rehunid@s são referências no tema e são procurados para matérias na mídia escrita, falada e televisiva, outra estratégia de disseminação das propostas. Organização de campanhas: pelo Grupo Curumim de Recife: ‘Parto Humanizado, pense nisso!’ (1997); pela ReHuNa de São Paulo: ‘Pelo direito de acompanhante de escolha da mulher’ (1999) e ‘Pela abolição da episiotomia de rotina’ (2003), esta com presença de representante do Centro Latinoamericano de Perinatologia – CLAP. Ademais, integrantes da ReHuNa irganizam e organizaram eventos em todo o país, salientando-se a atuação do Instituto Aurora, do Rio de Janeiro, que por muitos anos realizou o Encontro de Gestação e Parto Natural Consciente, no Rio de Janeiro.
Ativistas trabalhando na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, já nos anos 1990, implantaram a primeira política pública explícita de humanização do P&Nm com a maternidade Leila Diniz; foram pioneiros na. institucionalização do direito ao acompanhante, por meio de resolução de 1998, inspirando o surgimento de leis e de portarias em outras localidades. ReHuNidos contribuiram na formulação de políticas nacionais que considerassem o a humanização da atenção a partos e nascimentos, com efeitos como o lançamento, em 2000, pelo Ministério da Saúde, do Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento, com várias publicações que consideravam as propostas do movimento e as evidências científicas. Rehunid@s tem sido referências nacionais e internacionais, como consultores das políticas públicas, na elaboração dos documentos técnicos, na disponibilização de campos de estágio profissional, conduzindo projetos de implementação das políticas como o Doulas no SUS e interagindo de forma participativa, desde 2002, no Seminário de Cesáreas realizado em Campinas; nos Seminários de Atenção Obstétrica e Neonatal Humanizada e Baseada em Evidências Científicas (2004 – 2006); no Pacto pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal (desde 2004); e, mais recentemente (desde 2011), com participação nos Comitês de Especialistas e de Mobilização Social da Rede Cegonha, além de ter contribuído no delineamento e realização do Plano de Qualificação de Maternidades na Amazônia Legal e Nordeste (2009 e 2010), que integra o Compromisso pela Aceleração da Redução das Desigualdades Regionais da Presidência da República. A ReHuNa considera a Rede Cegonha a convergência de várias políticas e o cenário mais favorável possível para a implementação prática de seu ideário.
Além disso, a ReHuNa se tornou referência internacional, participando de eventos organizados por organismos internacionais da América Latina e hoje em dia a ReHuNa ocupa uma das cinco vagas da sociedade civil no Comitê Consultivo da iniciativa ‘Una promesa renovada para las Américas”, que visa a continuidade da preocupação com os ODMs 4 e 5 na era do Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Saliente-se que foi o núcleo de Santa Catarina que, inicialmente em seu estado e posteriormente em nível nacional, articulou para que fosse proposta lei que tornasse obrigatória a presença de acompanhantes de escolha da mulher durante o trabalho de parto e no parto. Essa iniciativa institucionalizou-se em 7 de abril de 2005, com a promulgação da Lei nº 11.108, de 7 de abril de 2005.
Oficialização da ReHuNa como ONG
Entre as pautas da ReHuNa, desde sua fundação, estão a diversidade de locais para o parto, permitindo a escolha das mulheres; a prestação de cuidados por obstetrizes; a presença de acompanhante de escolha; e outras. Essas propostas certamente incomodaram alguns setores da corporação médica, que têm buscado de todas as formas impedir a existência e o funcionamento dos centros de parto normal, ainda que estejam regulamentados oficialmente. À medida que o movimento cresce e se consolida, mais enfrentamentos têm aparecido, principalmente nas esferas locais, onde o confronto de paradigmas se expressa no cotidiano: médicos contra enfermeiras ou doulas, instituições privadas que impedem médicas humanizadas de atender partos no quarto etc. A ReHuNa não se furta a esses enfrentamentos e tem dado respostas das mais variadas, fazendo essa defesa, tanto no plano individual, como no político e social, com resultados favoráveis ao movimento. Exemplificando, apenas em 2019: entrou com mandado de segurança contra a resolução nº 293/2019 do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro; oficiou o Ministério da Saúde quando foi divulgado despacho contrário ao uso da expressão ‘violência obstétrica’, além de emitir parecer, tendo conseguido realizar reunião com gestores do Ministério para debater esse posicionamento oficial; participou de audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo para a discussão do PL nº 435; participou de audiências públicas na Câmara Federal para discussão sobre violência obstétrica e sobre cesáreas; participou de audiências públicas nas Defensorias Públicas da União do Rio de Janeiro e do Distrito Federal para discutir a resolução n º 2232/2019 do Conselho Federal de Medicina; e participou de grupo de trabalho no Ministério Público do Trabalho para discutir a nova legislação restritiva dos direitos das mulheres gestantes e lactantes.
O ponto mais desafiador da agenda da ReHuNa é a formação de trabalhadores de saúde para o novo modelo. Algumas faculdades de Enfermagem desenvolvem essa proposta e há contingente crescente de enfermeiras obstetras que adotam o novo modelo, havendo as que assumiram a mudança ao ponto de assistir apenas partos domiciliares. A mobilização da Enfermagem conseguiu que fosse aberto, em 2005, curso de Obstetrícia entre os novos da Universidade de São Paulo, na USP-Leste, direcionado ao novo paradigma, porém ainda há o desafio da abertura de vagas para obstetrizes nos serviços públicos e privados de saúde. A ReHuNa apoia esse curso e anseia para que outros semelhantes proliferem pelo país. Todavia, o nó górdio é a formação de novos médicos e a atualização dos que atualmente praticam, para uma Obstetrícia baseada em evidências científicas e menos intervencionista. A ReHuNa apoia o projeto Aprimoramento e Inovação no Cuidado e Ensino de Obstetrícia e Neonatologia, proposta de mudança da forma do ensino, da assistência e da gestão em 97 hospitais de ensino do país, uma parceria entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação, e faz parte do Conselho Consultivo dessa iniciativa.
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Com o prazer de poder contribuir com o meu conhecimento adquirido em 40 anos de profissão, hoje, estou aqui transbordando de gratidão e felicidade, pois este é um momento verdadeiramente especial para mim. A confecção deste e-book foi uma jornada de dedicação e paixão, onde cada página representa não apenas informações, mas anos de experiência, aprendizado e reflexão cuidadosamente destilados.
Este e-book é mais do que palavras e ideias; é o reflexo do meu compromisso contínuo em partilhar o que aprendi ao longo das décadas. A busca pelo conhecimento nunca cessa, e minha jornada não para aqui. Tenho o firme propósito de continuar compartilhando meus conhecimentos, de manter o diálogo vivo e de oferecer insights valiosos para todos os interessados.
Cada tópico abordado neste e-book é um convite para uma conversa em constante evolução. Estou animado com as possibilidades que o futuro reserva, à medida que continuo a crescer, aprender e compartilhar. Agradeço por me permitirem fazer parte desta jornada, e espero que este e-book seja apenas o começo de muitas discussões frutíferas e enriquecedoras. Juntos, podemos explorar novas fronteiras do conhecimento e transformar ideias em ações concretas para um mundo mais informado e inspirado.
Quero expressar minha profunda gratidão a todas as mulheres e suas famílias que depositaram confiança em mim e me concederam o incrível privilégio de compartilhar um dos momentos mais marcantes de suas vidas.
Para mim é um enorme privilégio fazer parte de momentos tão significativos na vida de uma mulher, de sua família e da sociedade como um todo. A cada convite para compartilhar essas ocasiões tão preciosas, sinto uma imensa honra e uma grande responsabilidade. Participar de celebrações permeadas de amor, alegria e união é algo que verdadeiramente toca minha alma, e essa experiência permanece guardada com carinho em meu coração.
Quero estender meus agradecimentos especiais a todos os notáveis autores que, de maneira inequívoca, contribuíram para o meu desenvolvimento profissional. Cada palavra escrita, cada história compartilhada e todo conhecimento transmitido têm enriquecido minha jornada, permitindo-me entregar o meu melhor a cada momento.
Nesta jornada, aprendi que a verdadeira beleza reside não apenas nas palavras pronunciadas, mas nos sentimentos e conexões que emergem delas. Cada sorriso, cada lágrima de felicidade, cada abraço emocionado - tudo isso transforma essa caminhada em algo extraordinário e cheio de significado.
Agradeço especialmente a Daphne Ratnner, em nome de quem expresso meus agradecimentos a todas as companheiras e companheiros da Rehuna – Rede Pela Humanização do Parto e Nascimento - por estarem ao meu lado nesta trajetória.
Quero expressar minha profunda gratidão a cada um de vocês por fazerem parte desta jornada. Juntos, continuaremos a construir lembranças preciosas, celebrando o amor, a família e a sociedade.